sexta-feira, 12 de junho de 2009


O Julgamento (Braz Campos Durso)

Constantemente as pessoas julgam. Parece ser algo nato do ser humano: julgar seu semelhante. Julgamos com tanta ênfase que esquecemos que podemos nos tornar réu e sermos julgados também.

Existem diversas formas de se julgar, mas invariavelmente acabamos por julgar algo em alguém. O julgamento do aspecto físico é talvez o que causa maior frustração tanto para quem é julgado como para quem julga. Quem é julgado porque fica exposto a comentários maldosos e quem julga porque pode cometer erros e equívocos imperdoáveis.

Recentemente num programa de talentos da televisão britânica (reality show Britain's Got Talent) tivemos uma prova disso. Uma das participantes, a candidata Susan Margaret Boyle que externamente não se enquadrava no perfil de beleza, foi vítima do JULGAMENTO. Antes de abrir a boca e soltar uma voz maravilhosa ela foi ridicularizada pelos jurados do programa. Mas como tudo na vida, quando fazemos um pré julgamento acabamos por ter uma surpresa depois. E com esta candidata não foi diferente, fazendo com que ela chegasse a final do reality show.

Não consigo entender por que o ser humano tem essa necessidade de julgar. Julgamos com tanta veemência que esquecemos que erramos também. Já cansei de pré julgar alguém e me arrepender depois. Na verdade aprendi que antes de julgar temos de dar tempo para entender cada pessoa e principalmente saber respeitar as diferenças. Apenas por alguém não pensar da mesma forma que eu, não quer dizer que essa pessoa esteja errada e que mereça ser julgada. Quem garante que na verdade não é ela a correta e eu o errado ?

Quantas vezes também uma pessoa que é considerada “feia” não se torna a principal companhia e aquela que mais nos entende. Nessas horas não é melhor nos perguntar se o importante é o julgamento do aspecto físico ou o caráter e a amizade ? Acho que caráter e amizade sobrepõem em valor qualquer beleza física. De que adianta o físico se o conteúdo é vazio ?

Lembro de ter lido uma vez uma crônica na internet em que uma menina entra numa loja de animal e se apaixona por um cachorrinho que tem um defeito na perna. Ela fala para o vendedor que vai querer levar aquele pequeno animal com o defeito e o dono da loja responde que ela não deveria escolher aquele e sim outro animal, pois aquele apresenta um defeito. Mais uma vez vemos como as pessoas julgam pelo físico (no caso o dono da loja). Nessa hora a criança fala que quer aquele mesmo, pois como ela também tem um defeito na perna, aquele animal vai ser perfeito e eles vão andar na mesma marcha. Acho maravilhoso essa crônica, pois ela valoriza o significado do interior dos seres vivos. Essa lição de moral da crônica serve de alerta para entendermos a forma como nós, seres humanos, estamos conduzindo os relacionamentos nos dias de hoje: valorizando apenas o físico. Essa forma de agir e pensar faz com que relacionamentos com pessoas incríveis sejam perdidos. Quantas amizades sinceras não entram na nossa vida por culpa do modo como agimos ?

Antes de julgarmos alguém, devemos sempre nos perguntar se estamos dando tempo suficiente para conhecermos o interior dessa pessoa. Provavelmente não estaremos dando tempo suficiente para isso. Por isso, devemos escutar mais, entender mais, respeitar mais, ajudar mais e julgar menos. Dessa forma seremos mais felizes e faremos a todos do nosso convívio felizes. Antes de julgar, vamos aprender a aceitar as diferenças. O diferente não precisa ser julgado (lembre-se o diferente pode ser você). O exterior é apenas uma casca. Para ver o interior precisa-se de tempo. Para se aprender leva-se tempo. Então para que correr ?


Um comentário:

  1. Acho que julgar o outro é algo meio atávico no sentido de que quando eramos hominídeos tinhamos que reconhecer os que faziam parte de nossa tribo. Ou seja, no primeiro momento foi uma questão de sobrevivência mesmo. Depois, este pré julgar foi se sofisticando e sendo utilizado pelo capitalismo como forma de distinção entre as pessoas. Afinal só dessa maneira pode-se convencer alguém em sã consciência a pagar rios de dinheiro por um jeans rasgado fabricado na china mas que teoricamente tem pedigree italiano ou francês. Tudo isso para dizer que julgar é meio inerente ao ser humano e o julgar pela aparência é uma forma muito primitiva de julgamento mas que infelizmente ainda é muito utilizada porque é a mais fácil e imediata além disso, perdemos com a evolução muito de nossa capacidade olfativa e só nos restou o olhar. Talvez por isso sejamos tão fascinados pela beleza. No entanto, acredito que à medida que vamos amadurecendo nosso conceito de beleza vai mudando e beleza passa a ser sinonimo de movimento, de jeito de corpo. Claro que existem pessoas lindas mas a grande parte das pessoas é medianamente bonita e só se tornam encantadoras ou horriveis quando as vamos conhecendo. Quem não aprende isso muitas vezes se condena a conviver com alguém lindo mas extremamente chato e vazio. Claro que dois fúteis vão passar a vida competindo e morrendo de medo de envelhecer o que pode ser uma maneira de espantar o tédio existencial e o enorme deserto de uma existência sem conteúdo. Enfim sem querer julgar mas já julgando nem todo mundo suporta pensar e dá-lhe frontal para encarar o cotidiano e calmante para dormir. Mas, eu sou otimista e acredito que sempre se pode mudar a qualquer tempo e quem sabe um dia faz-se um lindo movimento para desembotamento das mentes? Eu tento sempre e as vezes até consigo mudar uns dois ou três. Bem, é pouco mas já é um começo.

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