terça-feira, 30 de junho de 2009


Desmedida - a falta de limites (Braz Campos Durso)

Acabei de ler um texto na revista Isto É de 1/julho que me chamou a atenção para o título da matéria: A FAMA MATA - especialistas explicam por que a morte vira o único limite para quem leva uma vida superlativa. Resolvi fazer alguns comentários sobre esse tema.

Muitas pessoas sonham com conseguir fama. Será que ser famoso é realmente uma necessidade ou um objetivo de vida ? Devemos nos perguntar primeiro o por que de querermos ser famosos. Creio que muitos irão responder o status, o dinheiro, o poder, enfim coisas materiais. Caímos aqui numa ilusão de que os bens materiais estão associados ao bem estar e à felicidade. Conheço várias famílias que possuem tanto poder e fama e que são cercadas de tragédias ou infelicidades afetivas. Esquecemos que a felicidade não depende de bens materiais. Ela depende apenas do que sentimos em nosso coração. De sabermos valorizar as pequenas coisas da vida e que estas não dependem de nenhum bem material. Quanto maior a nossa capacidade de desapego maior consequentemente, nossa chance de sermos felizes. A maior armadilha da fama vem do que as pessoas envoltas por ela acabam fazendo: cometendo excessos e se achando superioras a todo mundo.

Um psicanalista argentino radicado no Brasil chamado Alberto Godim na reportagem da revista Isto É (A FAMA MATA – 1 julho), alerta para o fato dos famosos viverem em um estado de paranoia. Segundo ele “o paranoico acha que todo mundo está olhando para ele. O famoso tem de lidar com isso na vida real: de fato está todo mundo olhando para ele. Isto causa o afastamento do comum e acentua o narcisismo. Isto acaba levando a solidão e consequentemente à busca por suportes: drogas, álcool e remédios, para a frustração por ter de lidar com a insignificância humana. Todo esse pensamento do psicanalista realmente deve nos levar a refletir sobre a busca pela fama e poder. Se pensarmos bem a clássica frase: dinheiro não é tudo, neste contexto parece ter a sua fundamentação mor.

O sociólogo Muniz Sodré na reportagem desta revista, chama a atenção para o fato da morte acabar sendo o limite para quem vive uma vida sem limites. E isto pode facilmente ser observado, pois normalmente os famosos acabam por terem mortes trágicas e muitos ainda jovens. Acabamos por transformar em mitos pessoas que filosoficamente e espiritualmente são vazias. Passamos a idolatrar pessoas não pelo seu caráter ou por sua capacidade de fazer o bem, mas sim pela sua capacidade de ser cada vez mais excêntrico. Ocorre uma grande inversão de valores morais na sociedade na hora da criação de mitos.

O autor do livro “O auto-engano”, professor Eduardo Gianetti, na reportagem explora a tese de que o caminho do excesso extravasa as fronteiras da nossa condição mortal, agride a ordem divina ou natural das coisas e, por isso, não termina bem. As pessoas absorvidas pelo condição de celebridade acabam por colocarem-se acima de tudo e de todos. Esquecem de que existe algo maior que nos rege. Esquecem de que nossa missão terrena deve ser baseada em fazer o bem. Esquecem que o importante é sermos nós mesmos. Sabermos reconhecer nossas limitações. Sabermos respeitar os espaços das diferentes pessoas. Entendermos que sempre existirá estágios diferentes e momentos diferentes entre nossos semelhantes e que nem por isso deixaremos de sermos felizes e termos nosso espaço.

A grande maioria acaba por confundir o que é buscar o seu espaço, com a fama. Confundem reconhecimento profissional e pessoal com poder. Nada disso deveria ser fundamental numa vida harmoniosa. Tudo isso deveria ser uma trajetória normal na vida. Posso conseguir reconhecimento profissional cada vez que um paciente, por exemplo, gosta de como é tratado de forma humana. Posso conseguir o reconhecimento pessoal cada vez que dou um abraço em algum membro da família ou ajudo alguém, mesmo que desconhecido. Para eu conseguir esses reconhecimentos, não preciso depender de ninguém, mas sim da minha paz interior. Esse tipo de reconhecimento vem com a nossa satisfação própria. Eu mesmo tenho de me realizar com o que fiz e não depender de um reconhecimento de alguém. Para eu ter esses reconhecimentos, eu não preciso ser famoso. Nenhuma excentricidade é necessária para se ser feliz. O grande valor das coisas persiste justamente na sua simplicidade. Demorei para perceber isso, mas quando o fiz, consegui estar em paz comigo mesmo e seguir meu caminho. Aprendi que mais importante do que fama e poder, está em termos amigos ao nosso lado. A solidão só existe para quem se torna vazio por dentro. Aprendi que mais importante do que ser um excêntrico, é procurar fazer o bem. Mais importante do que querermos ser, é sabermos respeitar nossos semelhantes. Mais fundamental acima de tudo é termos em Deus nossa referência primordial e o fazer o bem nossa meta.

quarta-feira, 24 de junho de 2009


Não viva a sua vida cheia de ressentimentos (Braz Campos Durso)

É interessante como podemos ver pessoas que têm tudo para serem felizes e que mesmo assim não o são. Essas pessoas só precisam acreditar nelas mesmos, mas acabam tão cheias de mágoas que não conseguem. Vejo constantemente pessoas que se ocupam em se dedicar ao ressentimento, fazendo dessa tarefa uma prática diária. Essas pessoas vivem sempre achando uma desculpa para algo que não dá certo. Elas sentem raiva, ódio, rancor e querem sempre reclamar e brigar, como se essas atitudes e sentimentos fossem realmente mudar alguma coisa, o que não acontece. Nossa vida é tão curta, tão momentânea e mesmo assim alguns passam a maior parte de suas vidas mergulhadas em ressentimentos. Devemos procurar sempre seguir em frente. Levantar e ir adiante. Mesmo aquelas pessoas que apresentam várias dificuldades na vida podem acreditar nelas mesmo e serem vencedoras.

Muitas pessoas necessitam de ter um direcionamento na vida para poderem seguir em frente. Nesse ponto a religião pode ser um fator determinante. Não importa qual o tipo de religião, desde que o objetivo seja o de fazer o bem. A religião pode ser em muitos casos o início de um novo círculo de amizade, de um novo sentido na vida pessoal e profissional, uma verdadeira âncora de apoio para as pessoas que ainda não conseguem acreditar no seu próprio potencial de seguir em frente. Servem também para mostrarem as pessoas que existem sofrimentos e perdas maiores do que as nossas. Servem para mostrar que as pessoas podem sim, ao contrário do que se pensa, serem solidárias e sinceras uma com as outras e se ajudarem. Nesse sentido único, a religião pode se tornar um fator determinante na mudança de atitude das pessoas. Isso não quer dizer que pessoas que adotam algum tipo de religião não irão mais errar nem deixaram de sentir algum tipo de ressentimento. Significa sim, que encontraram o apoio necessário para superar as barreiras que esses sentimentos podem causar ao ser humano. E tudo na nossa vida é um verdadeiro aprendizado. Aprender a superar esses sentimentos de raiva, ressentimento é uma das coisas mais fundamentais nos dias atuais.

Vejo muitas pessoas morrendo aos poucos por guardarem rancor no coração. Vejo pessoas envelhecendo rapidamente por guardarem tanto ressentimento no coração. Essas pessoas se esquecem da transitoridade da vida. Da rapidez dos momentos. Da brevidade da felicidade. Por isso não conseguem aproveitar nada. São pessoas que carregam com elas uma energia negativa. Pessoas que não conseguem ser felizes pois estão tão absorvidas em ter inveja, raiva ou qualquer outro sentimento ruim, que não conseguem adquirir um espaço próprio. Como se não houvesse espaço para todos brilharem, cada qual com a sua intensidade de luz própria. Essas pessoas esquecem que esse espaço existe e está dentro de nós mesmos. Só depende de irmos em frente, de queremos ser felizes. De definirmos o nosso trajeto e nossas conquistas e, lógico, batalharmos por elas. Depende principalmente do desapego material. Esquecemos que amizade não se compra. Amor não se compra. Família não se compra. Caráter não se compra. Ideais de vida também não se compram. O tempo que passou e que não existirá mais também não se compra. Saber aceitar as coisas que não podemos mudar é uma grande sabedoria. Saber aceitar a diferença de momentos entre as pessoas é outra grande sabedoria. Aceitar que nosso coração deve ser uma moradia para coisas boas deveria ser uma filosofia de vida. Nosso órgão vital não deve ter espaço para rancor ou ressentimento. O espaço do coração deve ser ocupado em sua totalidade com o amor e com o sentimento de fazer o bem. Quanto mais eu valorizo as coisas que vivo e o meu dia a dia, maior a minha felicidade.

sexta-feira, 12 de junho de 2009


O Julgamento (Braz Campos Durso)

Constantemente as pessoas julgam. Parece ser algo nato do ser humano: julgar seu semelhante. Julgamos com tanta ênfase que esquecemos que podemos nos tornar réu e sermos julgados também.

Existem diversas formas de se julgar, mas invariavelmente acabamos por julgar algo em alguém. O julgamento do aspecto físico é talvez o que causa maior frustração tanto para quem é julgado como para quem julga. Quem é julgado porque fica exposto a comentários maldosos e quem julga porque pode cometer erros e equívocos imperdoáveis.

Recentemente num programa de talentos da televisão britânica (reality show Britain's Got Talent) tivemos uma prova disso. Uma das participantes, a candidata Susan Margaret Boyle que externamente não se enquadrava no perfil de beleza, foi vítima do JULGAMENTO. Antes de abrir a boca e soltar uma voz maravilhosa ela foi ridicularizada pelos jurados do programa. Mas como tudo na vida, quando fazemos um pré julgamento acabamos por ter uma surpresa depois. E com esta candidata não foi diferente, fazendo com que ela chegasse a final do reality show.

Não consigo entender por que o ser humano tem essa necessidade de julgar. Julgamos com tanta veemência que esquecemos que erramos também. Já cansei de pré julgar alguém e me arrepender depois. Na verdade aprendi que antes de julgar temos de dar tempo para entender cada pessoa e principalmente saber respeitar as diferenças. Apenas por alguém não pensar da mesma forma que eu, não quer dizer que essa pessoa esteja errada e que mereça ser julgada. Quem garante que na verdade não é ela a correta e eu o errado ?

Quantas vezes também uma pessoa que é considerada “feia” não se torna a principal companhia e aquela que mais nos entende. Nessas horas não é melhor nos perguntar se o importante é o julgamento do aspecto físico ou o caráter e a amizade ? Acho que caráter e amizade sobrepõem em valor qualquer beleza física. De que adianta o físico se o conteúdo é vazio ?

Lembro de ter lido uma vez uma crônica na internet em que uma menina entra numa loja de animal e se apaixona por um cachorrinho que tem um defeito na perna. Ela fala para o vendedor que vai querer levar aquele pequeno animal com o defeito e o dono da loja responde que ela não deveria escolher aquele e sim outro animal, pois aquele apresenta um defeito. Mais uma vez vemos como as pessoas julgam pelo físico (no caso o dono da loja). Nessa hora a criança fala que quer aquele mesmo, pois como ela também tem um defeito na perna, aquele animal vai ser perfeito e eles vão andar na mesma marcha. Acho maravilhoso essa crônica, pois ela valoriza o significado do interior dos seres vivos. Essa lição de moral da crônica serve de alerta para entendermos a forma como nós, seres humanos, estamos conduzindo os relacionamentos nos dias de hoje: valorizando apenas o físico. Essa forma de agir e pensar faz com que relacionamentos com pessoas incríveis sejam perdidos. Quantas amizades sinceras não entram na nossa vida por culpa do modo como agimos ?

Antes de julgarmos alguém, devemos sempre nos perguntar se estamos dando tempo suficiente para conhecermos o interior dessa pessoa. Provavelmente não estaremos dando tempo suficiente para isso. Por isso, devemos escutar mais, entender mais, respeitar mais, ajudar mais e julgar menos. Dessa forma seremos mais felizes e faremos a todos do nosso convívio felizes. Antes de julgar, vamos aprender a aceitar as diferenças. O diferente não precisa ser julgado (lembre-se o diferente pode ser você). O exterior é apenas uma casca. Para ver o interior precisa-se de tempo. Para se aprender leva-se tempo. Então para que correr ?


segunda-feira, 8 de junho de 2009


MAIS PLATAO MENOS PROZAC: A FILOSOFIA APLICADA AO COTIDIANO

Abaixo vou colocar uma parte que eu gostei do livro de Lou Marinoff e depois vou fazer comentários sobre o tema. Lou Marinoff (PhD e professor de filosofia no City College de Nova York) é o principal líder nos EUA de uma nova corrente de pensamento que retira a filosofia do seu castelo acadêmico e a devolve ao dia-a-dia, utilizando as obras dos maiores pensadores da história para ajudar as pessoas a resolverem seus próprios problemas. Segundo este autor as terapias atuais não passam de “farmacologia neural”e hoje são feitas prescrições para pessoas que precisam tão somente de uma discussão.


Buda deixou um texto denominado AS QUATRO VERDADES NOBRES, que expõem um caminho importante para atravessar as provações mais árduas da vida, de modo que possam ser úteis às pessoas em circunstâncias extremamente penosas. A PRIMEIRA VERDADE é que a vida envolve sofrimento. A SEGUNDA é que o sofrimento é causado; não acontece por acaso. A TERCEIRA, que podemos descobrir a causa e romper a cadeia causal para impedir o sofrimento. Remova a causa e removerá o efeito. A QUARTA, e mais importante, é que devemos praticar para alcançar o fim explicado no terceiro ponto.

Segundo o pensamento budista, tudo que fazemos tem consequências, inclusive o nosso comportamento moral, embora não possamos dizer quanto tempo leva para uma consequência se manifestar ou que forma assumirá quando isso acontecer. Talvez não possamos escolher estar ou não numa situação específica, mas temos escolhas quanto ao que fazer com a situação em que nos encontramos. Escolhemos entre o bem e o mal, e se fizermos boas escolhas, acontecerão boas coisas. Se fizermos más escolhas, coisas ruins acontecerão. Isso transfere parte da responsabilidade e do controle às pessoas.

O budismo encara a existência como uma série de instantes, e o que acontece em cada um influencia o que acontece no seguinte. É uma postura otimista e que exige mais responsabilidade pessoal. A ênfase é no desenvolvimento moral.



Realmente é interessante a forma como as pessoas estão deixando o desenvolvimento moral de lado nas atividades diarias. Estamos nos acovardando atrás de máscaras de medicamentos, pois isso é muito mais fácil do que ter uma atividade reflexiva de nossos atos. Chego a pensar se hoje em dia o ser humano ainda consegue realmente pensar e refletir. Creio que na maioria das vezes nos movemos por influência da massificação cultural, independente do nível e forma de conteúdo que se possa denominar cultura nos dias atuais. Algo que realmente chama minha atenção é para o aquecimento global. Aquecimento esse apenas no clima, pois na vida diária dos seres humanos parece que estamos vivendo a maior era GLACIAL da história. Parece que cada pessoa comprou um iglu no polo norte e se isolou do restante do mundo. Estamos desenvolvendo uma característica em nossa espécie que não consigo ver como uma verdadeira evolução. A característica de enxergar seletivamente o que nos interessa. Vou explicar melhor esse meu ponto de vista, passamos na rua e fechamos nossos olhos para as pessoas passando fome, as pessoas apresentando algum tipo de dificuldade diária como um pneu furado por exemplo. Enxerguamos apenas o que estamos indo fazer naquele momento. Estamos virando escravos dos horários e do trabalho. Não é raro os pais não acompanharem o crescimento e desenvolvimento de seus filhos, devido a famigerada falta de tempo. Esse fato acaba fazendo com que pessoas de uma mesma família não se conheçam mais. E se dentro de uma mesma família já não conseguimos conhecer as pessoas na sua essência, imagina então conhecer uma pessoa estranha ao nosso convívio familiar. Talvez por esse motivo os relacionamentos matrimoniais estejam dando tão errado entre pessoas nos dias atuais. Estamos tão habituados a fazer tudo tendo como direcionamento nossa visão “seletiva”' que o ser humano está se tornando cada vez mais individualista e também frio, afinal não é a era GLACIAL que estamos vivendo hoje em dia ? O que me deixa mais preocupado é que não estamos mais sabendo saborear as melhores coisas da vida e que nos são dadas de graça. Não temos mais tempo para olhar a paisagem, ouvir o som da natureza e principalmente aproveitar as amizades e nossa família. Dizer um simples bom dia a um vizinho, dar um abraço numa pessoa querida ou mesmo dizer te amo a pessoa amada, viraram quase frases e atos obsoletos nessa era glacial. As vezes são feitas de forma totalmente impessoal o que é pior ainda, afinal não se deve brincar com sentimentos nessa vida. Talvez tudo isso esteja ocorrendo porque nos dias atuais não temos mais a preocupação de achar soluções para nossos problemas e também para explicar nossas atitudes. Não paramos mais para pensar antes de fazer. A preocupação moral tem ficado relegada a segundo ou até terceiro plano nessa era glacial. Creio que somente através da prática da filosofia em nossa vida é que conseguiremos sair dessa era glacial humana. Devemos buscar o calor de observar o brilho no olhar de uma pessoa que acabamos de fazer feliz. Devemos aproveitar cada momento com as pessoas que gostamos. Devemos curtir até o simples respirar em silêncio lendo o que está escrito no olhar de uma pessoa.Devemos priorizar o pessoal ao impessoal. Devemos e podemos. E isso pode ser tão fácil: basta querer!!!